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7 de julho de 2010

Os craques pifaram

Afirmo e reafirmo: a culpa é da mídia.
Ela hiperdimensiona.
Kaká, Messi, Cristiano Ronaldo e Rooney não são muito melhores do que Felipe Melo.
São apenas um pouco melhores.
Nesta Copa, o inglês jogou tanto quanto Gustavo Papa no Inter.
Messi ficou longe de ser o messias.
Cristiano esteve mais para Ronaldo depois do sucesso.
Kaká só surgiu para riso na internet: kakakakaka.
Basta um chapéu para que a mídia já invente um extraterrestre.
É o hiper-realismo do futebol.
Um jogador não passa a ser o melhor por ter sido escolhido o melhor do mundo, mas, por ter sido o melhor do mundo, vira para sempre o melhor.
O melhor do mundo é o melhor de um ano.
Uma escolha que envolve alguns elementos objetivos e uma infinidade de circunstâncias.
O hiper-real é aquilo que se torna mais real do que o real.
Por ter feito mais gols, um jogador pode ser eleito melhor de um ano, melhor do mundo.
Por ter sido melhor do mundo, ele se torna um extraclasse, um fenômeno, um craque.
Mas os craques de hoje estão apenas um dedo acima dos medianos.
Daí as decepções.
Espera-se que eles façam magias.
Eles só fazem, quando fazem, um pouco mais do que a média.
A mídia sabe que sonhamos com o extraordinário.
Dado que ele não existe, ela o inventa.
Quer dizer, acelera.
É um efeito.
A gente acredita.
Afinal, queremos ilusão.
A mídia cobra dos jogadores aquilo que eles não prometeram, mas que ela lhes atribuiu.
Faz bem, pois os salários decorrentes da hipervalorização eles aceitam.
Craques ainda existem?
Talvez.
Vi muito poucos.

Postado por Juremir Machado da Silva - 04/07/2010 19:00 - Atualizado em 05/07/2010 19:37

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Caro Dunga

Minha solidariedade, Dunga. Tu foste genial. Eu me tornei definitivamente teu fã. A eliminação contra a Holanda não abalará em coisa alguma a minha admiração. Tu és ingênuo, Dunga. Quiseste ganhar com base na seriedade, na lealdade e no caráter. Tiveste a coragem de dizer sempre a verdade e de enfrentar os mais poderosos. Cometeste erros, Dunga, mas isso é normal. Só os cretinos imaginam fazer tudo certo. Deixaste de fora alguns meninos talentosos, Dunga, e o velho Ronaldinho Gaúcho. Tiveste boas razões para isso. Tu havias ganhado tudo com o grupo que levaste a Copa. Desejavas valorizar os teus comandados e vencer ou perder com eles. És um capitão de navio à moda antiga. Aceitaste afundar com teu navio. Tua vitória teria sido uma revolução nos costumes. Que pena!

É verdade que não apostaste na beleza. Outros, no entanto, ganharam sem beleza alguma e tampouco sem tua valentia e tua nobreza rude. A derrota foi o resultado de alguns erros que podem acontecer com qualquer um: um gol contra de Felipe Melo, uma agressão boba de Felipe Melo, que determinou sua expulsão, e a perda do controle emocional pelo time todo. O mesmo Felipe Melo, entretanto, deu o lindo passe do gol do Robinho. Estiveste a um passo da glória, Dunga. Agora, voltaste, apesar dos triunfos anteriores, a ser um desgraçado, um maldito, um desprezado. Conheço isso, Dunga. Por mais que tu venças, serás sempre um perdedor. É tua sina. Os donos do mundo não suportam a tua franqueza, que chamam de arrogância. Detestam tua simplicidade, que rotulam de grossura. Odeiam tua transparência, que os impede de conceder privilégios e de fazer negociatas na tua cara.

Foste um exemplo, Dunga. O mundo, porém, não está preparado para a tua vitória. Espero que esteja para a de Maradona, técnico antagônico e complementar a ti, mas não acredito. Tomara que eu me engane. Foste bravo, Dunga, impávido, colosso. Não mandaste Felipe Melo pisar no adversário. Buscaste o equilíbrio. Apostaste no talento de Kaká e Robinho.

Sonhaste com a beleza. Ela não sorriu para ti. A mídia te condenou por não teres feito o jogo dela. Viste o jogo como um jogo e tudo fizeste para alcançar os teus objetivos. Não compreendeste que o jogo é também um teatro no qual alguns devem sempre figurar nos camarotes. Até o teu sotaque incomodou, Dunga, neste país onde os que debocham do teu sotaque têm sotaques tão ou mais caricaturais. Tiveste personalidade, Dunga. Isso é imperdoável. Há muita gente feliz agora. Teus inimigos podem sorrir triunfantes e sentenciar: “Eu não disse…”

Nós, os ruins, os ressentidos, os malditos, os perdedores, apesar de todas as nossas vitórias, estamos contigo Dunga. Somos os teus representantes por toda parte. Tinhas razão, Dunga: boa parte da mídia estava dividida, torcendo pelo Brasil e, ao mesmo tempo, te secando. Para vencer neste mundo, Dunga, é preciso aprender a ser hipócrita. Tu nunca conseguirás. Tuas vitórias serão sempre laboriosas. Tuas derrotas te marcarão mais. Tu, ao contrário de outros, não te escondes jamais. Aceita, caro Dunga, meus cumprimentos.

Postado por Juremir Machado da Silva – 03/07/2010 08:56